segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Curiosidade gastronômica: Os segredos do camarão do Bar das Ostras

Publicado por Nide Lins em 03/08/2011 as 17:17 Arquivado em Blogs, Destaque, Nide Lins

Camarão do Bar das Ostras, criação da comadre Oscarlina, será o primeiro patrimônio imaterial do Estado (Fotos: Nide Lins)

Camarão do Bar das Ostras, criação da comadre Oscarlina, será o primeiro patrimônio imaterial do Estado (Fotos: Nide Lins)

Na barraca Nossa Senhora de Fátima, no mercado da Produção está guardado um dos segredos do famoso camarão do Bar das Ostras: a manteiga da cidade de Major Isidoro, usada pela comadre Oscarlina para preparar a iguaria que durante décadas fez muitos alagoanos e turistas comer rezando. Mesmo com o fim do restaurante o sabor marcante do crustáceo sobreviveu na memória de tantos, como do senhor José Oliveira Filho, o famoso Deda, comerciante da manteiga na barraca Nossa Senhora de Fátima.

Seu Dadá desde os anos 70 vende a manteiga que é o segredo do camarão do Bar das Ostras

Seu Deda desde os anos 70 vende a manteiga que é o segredo do camarão do Bar das Ostras

“O velho (seu Pedro, esposo de Oscarlina) vinha sempre comprar na minha barraca. Na época do Bar das Ostras ele comprava entre 150 e 200 quilos de manteiga para fazer o melhor camarão de Alagoas”, lembra seu Deda. Muito feliz, ele conta que, dias atrás, as filhas da comadre Oscarlina vieram de Natal para comprar uma grande quantidade para fazer a receita para Sococo.

Pois bem, a empresa alagoana Sococo, numa iniciativa louvável comprou a receita do Camarão do Bar das Ostras para torná-la de utilidade pública, doando-a ao Estado como presente de aniversário da própria empresa. O objetivo é transformá-la em Patrimônio Imaterial de Alagoas e o processo para tanto já se encontra em andamento junto a Secretaria de Estado da Cultura. E a empresa foi mais além, promoveu uma oficina voltada a chefs e gourmets de Alagoas. Dessas lições os profissionais da culinária alagoana saíram aptos para reproduzirem o prato e, se assim o desejarem, estão liberados para incluí-lo em seus cardápios.

O Camarão do Bar das Ostras nasceu da alagoana chamada carinhosamente de Comadre Oscarlina, que na década de 50 comercializava na sua humilde casa à beira da lagoa Mundaú, no Vergel do Lago, as ostras que posteriormente deu nome ao empreendimento popular. Mas, o seu camarão macio, de caldo suculento, sabor marcante, único, ficou marcado na memória de muita gente.

O segredo foi guardado a sete chaves pela comadre, e só ela sabia fazer. A herança do saber e de como fazer o camarão foi passada para suas filhas Marta Cristina, Vera, Marluce, Jandira e Mabel. Coube as essas meninas a missão de repassar os segredos na oficina promovida pela Sococo.

Na oficina, os chefs atentos ficaram surpresos, porque a receita não leva leite de coco, nem creme de leite. Os ingredientes são simples, populares, comprados no mercado da produção, como o vinagre Tomatão, cebola, pimentão, tomate, coentro, extrato de tomate e manteiga de Major Isidoro e/ou Batalha. O camarão é o mais nobre pescado no mar de Alagoas, chamado Vila Franca ou Branquinho, embora elas dissessem que o camarão Rosinha também é indicado.

A receita envolve também uma técnica no preparo do camarão, uma espécie de choque de temperaturas. Primeiro um quilo de camarão com casca é colocado em água quente por 10 minutos, depois é retirado para levar um banho de água fria e descascado. Fica descansando para levar outro banho de água quente, desta vez com sal por mais cinco minutos.

Retirada a água fica descansado. A segunda etapa é o molho, para um quilo de camarão é usado meia cebola, um tomate, 1/3 de pimentão, 1/3 do maço do coentro, duas colheres de sopa de extrato de tomate e uma colher de sopa de vinagre Tomatão. Batem-se tudo no liquidificador.

Todos os ingredientes da receita são encontrados no Mercado da Produção

Todos os ingredientes da receita são encontrados no Mercado da Produção

Numa panela se coloca o molho batido, duas colheres de azeite e meio limão (mas o segredo é não espremer todo, apenas uma parte). Deixe ferver, abaixe o fogo, acrescente o quilo de camarão e aos poucos 600 gramas de manteiga.

Filhas da Oscarlina mostram o saber e fazer do camarão do Bar das Ostras

Filhas da Oscarlina mostram o saber e fazer do camarão do Bar das Ostras

No primeiro dia de oficina as filhas da Oscarlina mostraram o saber e fazer, e como toda gastronomia popular a medida não é em gramas, está na cabeça e a prova é no paladar. E quando um chef perguntava quantos gramas, elas respondiam: ‘O quanto baste”.

No segundo dia da oficina “o quanto baste”, pela primeira vez, foi decifrado em gramas. E os chefs com a mão na massa testaram a receita, uma equipe colocou muito limão, a receita ficou ácida. Outros cozinharam pouco os legumes e o sabor não ficou igual ao da comadre Oscarlina.

O resultado final tem um sabor histórico, afinal a comadre Oscarlina era uma grande chef no tempo onde cozinha não era moda, e a simplicidade deu fama ao camarão. A receita criada pela dama alagoana merece ser tombada porque passou décadas na memória. Graças ao talento e criatividade da comadre, Alagoas terá o primeiro registro gastronômico como patrimônio: o Camarão Alagoano do Bar das Ostras.

Salve Oscarlina!

À Sococo, o eterno agradecimento de Alagoas!

Caldo do camarão do Bar das Ostras é consistente

Caldo do camarão do Bar das Ostras é consistente

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